Tenho acompanhado superficialmente, pelas redes sociais, o debate a
respeito da desapropriação de um terreno, que exite perto do
maracanã, entre um grupo de índios que reivindica a posse para a
criação de um museu nesse espaço contra o Governo do Estado do Rio
de janeiro que pretendia transformar em estacionamento ou coisa
parecida. Este é um resumo do que apreendi dos fatos perdoe-me pela
possível falta de precisão na descrição.
O que me interessou no meio de milhares de posts, comentários,
debates foi de ter ouvido a expressão “Índio de que usam
celular...”. Nessa altura me lembrei de uma das aulas mais
estressantes que tive no estagio do Colégio Pedro II (pra quem não
sabia, como eu, uma das melhores instituições de ensino no Brasil
fundada por um cara que veio de Portugal) nessa aula um garoto de no
máximo 14 anos anos, branco, argumentava que índios que usam
celular e havaianas não são índios e que por que não eram índios
não mereciam demarcação de terras.
Esta foi uma das poucas vezes em 2 anos como estagiário que perdi a
paciência com um aluno. Como um garoto com essa idade, numa
instituição desse porte pode ter uma ideia tão IMBECIL em pleno
século anos 21? E o pior de tudo! Já estava até conseguindo algum
assentimento do resto da turma. Eu que Geralmente ficava no fundo da
sala calado, me levantei e pedia a palavra a professora orientadora e tentei
mostrar ao garoto o quanto ele estava errado. Acho que não consegui
convencer o IMBECIL (não estou nem um pouco preocupado com o
politicamente correto. Será que há alguma coisa no Estatuto da
Criança e do adolescente que me impeça de constatar que um aluno é
um IMBECIL? Ou tenho que esperar a maior idade para fazê-lo?) mas
acho que consegui “salvar” o resto da turma.
Realmente é necessário um curso de Filosofia para fazer uma
distinção tão simples entre cultura e instrumento? Será que
alguém é tão idiota ao ponto de achar que se o Peri ligar pra Ceci
a chamando pra ir na oca do pajé pra fazer uma dança da chuva isso
o torna menos índio? Infelizmente começo a desconfiar que sim. E
começo a perceber que há um certo sentido nisso geralmente as pessoas deixam-se idiotizar quando lhes convêm: “Esse preto não tem alma”
, “Índio que usa celular não é índio” se eu me deixo
idiotizar assim, posso continuar escravizando ou roubando terras e
continuar dormir como um bom cristão.
Sinceramente não sei p q estou fazendo isso. Meus 3 ou 4 amigos que
vão ler este texto não precisam (Não sou amigo de IMBECIS) e os
IMBECIS a que este se destina nunca vão ler o meu texto.
Ah! Sei lá vou fazer... vai pra rede mesmo... Vai que alguém
IMBECIL acha na busca e se “salva”.
Certamente o conceito de cultura engloba o conceito de instrumento,
mas numa relação fundante-fundado. Falando em português claro,
uma cultura usa um instrumento mas nunca é usada por ele. Cultura é
muito mais do que roupas e instrumentos. São formas de agir, de se
relacionar, de pensar de se estruturar socialmente, de acreditar...
pode se fazer isto por meio de instrumentos. Pode ser até sacralizar
algum instrumento mas sempre dentro de uma relação cultural. Nunca
de fato ou cientificamente ( a ciência também é fruto da cultura).
Ο instrumento pode ter uma relação contingente ou necessária
para uma certa cultura. O celular é acidental na cultura indígena.
Ter um celular não faz ou deixa de fazer de ninguém um índio. A hóstia
é necessária ao catolicismo. Acreditar que um pedaço de pão é
algo além de um pedaço de pão faz de alguém católico ou não.
Outra questão sobre o instrumento é de que eles são
intercambiáveis entre culturas. Daí é fácil concluir que não há
cultura pura num mundo pequeno e globalizado. O Pandeiro que é
necessário na cultura do samba é de origem árabe, o futebol que as
vezes é identificado como elemento de definição da cultura
nacional é de origem inglesa etc... Porém nesse intercambio há
sempre uma resignificação do instrumento. Certamente o jeito de
tocar pandeiro no Brasil é muito diferente do modo árabe. Nem é
preciso mencionar a diferença entre o futebol brasileiro e o inglês.
Poderia me estender por paginas, mas como os meus 3 amigos ( lembrei
que o quarto nunca entra na internet) poderão ouvir estes argumentos
de mim de forma muito mais aprazível e pormenorizada em algum bar regados a uma
cerveja xelada! E que os IMBECIS não leem nada alem de uma pagina.
Termino aqui.
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