segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Índios que usam celular



  Tenho acompanhado superficialmente, pelas redes sociais, o debate a respeito da desapropriação de um terreno, que exite perto do maracanã, entre um grupo de índios que reivindica a posse para a criação de um museu nesse espaço contra o Governo do Estado do Rio de janeiro que pretendia transformar em estacionamento ou coisa parecida. Este é um resumo do que apreendi dos fatos perdoe-me pela possível falta de precisão na descrição.
O que me interessou no meio de milhares de posts, comentários, debates foi de ter ouvido a expressão “Índio de que usam celular...”. Nessa altura me lembrei de uma das aulas mais estressantes que tive no estagio do Colégio Pedro II (pra quem não sabia, como eu, uma das melhores instituições de ensino no Brasil fundada por um cara que veio de Portugal) nessa aula um garoto de no máximo 14 anos anos, branco, argumentava que índios que usam celular e havaianas não são índios e que por que não eram índios não mereciam demarcação de terras.
Esta foi uma das poucas vezes em 2 anos como estagiário que perdi a paciência com um aluno. Como um garoto com essa idade, numa instituição desse porte pode ter uma ideia tão IMBECIL em pleno século anos 21? E o pior de tudo! Já estava até conseguindo algum assentimento do resto da turma. Eu que Geralmente ficava no fundo da sala calado, me levantei e pedia a palavra a professora orientadora e tentei mostrar ao garoto o quanto ele estava errado. Acho que não consegui convencer o IMBECIL (não estou nem um pouco preocupado com o politicamente correto. Será que há alguma coisa no Estatuto da Criança e do adolescente que me impeça de constatar que um aluno é um IMBECIL? Ou tenho que esperar a maior idade para fazê-lo?) mas acho que consegui “salvar” o resto da turma.
Realmente é necessário um curso de Filosofia para fazer uma distinção tão simples entre cultura e instrumento? Será que alguém é tão idiota ao ponto de achar que se o Peri ligar pra Ceci a chamando pra ir na oca do pajé pra fazer uma dança da chuva isso o torna menos índio? Infelizmente começo a desconfiar que sim. E começo a perceber que há um certo sentido nisso geralmente as pessoas deixam-se idiotizar quando lhes convêm: “Esse preto não tem alma” , “Índio que usa celular não é índio” se eu me deixo idiotizar assim, posso continuar escravizando ou roubando terras e continuar dormir como um bom cristão.
Sinceramente não sei p q estou fazendo isso. Meus 3 ou 4 amigos que vão ler este texto não precisam (Não sou amigo de IMBECIS) e os IMBECIS a que este se destina nunca vão ler o meu texto. Ah! Sei lá vou fazer... vai pra rede mesmo... Vai que alguém IMBECIL acha na busca e se “salva”.
Certamente o conceito de cultura engloba o conceito de instrumento, mas numa relação fundante-fundado. Falando em português claro, uma cultura usa um instrumento mas nunca é usada por ele. Cultura é muito mais do que roupas e instrumentos. São formas de agir, de se relacionar, de pensar de se estruturar socialmente, de acreditar... pode se fazer isto por meio de instrumentos. Pode ser até sacralizar algum instrumento mas sempre dentro de uma relação cultural. Nunca de fato ou cientificamente ( a ciência também é fruto da cultura).
Ο instrumento pode ter uma relação contingente ou necessária para uma certa cultura. O celular é acidental na cultura indígena. Ter um celular não faz ou deixa de fazer de ninguém um índio. A hóstia é necessária ao catolicismo. Acreditar que um pedaço de pão é algo além de um pedaço de pão faz de alguém católico ou não.
Outra questão sobre o instrumento é de que eles são intercambiáveis entre culturas. Daí é fácil concluir que não há cultura pura num mundo pequeno e globalizado. O Pandeiro que é necessário na cultura do samba é de origem árabe, o futebol que as vezes é identificado como elemento de definição da cultura nacional é de origem inglesa etc... Porém nesse intercambio há sempre uma resignificação do instrumento. Certamente o jeito de tocar pandeiro no Brasil é muito diferente do modo árabe. Nem é preciso mencionar a diferença entre o futebol brasileiro e o inglês.
Poderia me estender por paginas, mas como os meus 3 amigos ( lembrei que o quarto nunca entra na internet) poderão ouvir estes argumentos de mim de forma muito mais aprazível e pormenorizada em algum bar regados a uma cerveja xelada! E que os IMBECIS não leem nada alem de uma pagina. Termino aqui.

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